Este blog é um conjunto de colunas que escrevo.

(Péssima introdução, mas leiam mesmo assim!!)

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Columns 4- Um baile de máscaras

É raríssimo sairmos com nosso rosto verdadeiro para as ruas, simplesmente porque seria doloroso demais e ele voltaria cheio de cicatrizes. Por isso raramente expomos nosso verdadeiro “eu” para o mundo, ou uma pessoa sequer; é preferível ferir a máscara ao único e insubstituível rosto. Até mesmo a pessoa de cara amassada de sono e de domingo que vai buscar o jornal na banca está usando uma máscara. Não que seja um trabalho muito exaustivo, é mais um instinto; colocamos instintivamente nossa máscara ao sairmos do nosso espaço único e privado.

Temos um repertório imenso de máscaras adequadas para todos os tipos de situações: as máscaras cara de tou-pegando-meu-jornal-na-banca-num-domingo, cara de não-enche-no-metro-na-segunda, cara de este-sou-eu-sendo-simpático-no-primeiro-dia-de-trabalho, cara de este-sou-eu-sendo-chato-com-o-mala-qualquer-que-está-me-irritando, cara de este-sou-eu-impaciente-na-fila-do-macdonalds... São inúmeras caras e máscaras que utilizamos com pessoas desconhecidas, até mesmo com amigos, com chefes, colegas, com companheiros de fila, com atendentes do supermercado: sempre passamos uma imagem.

Agora, se sempre colocamos uma máscara, isso não significa que sempre temos a possibilidade de escolher com antecedência a máscara que vamos usar. Às vezes, a maioria das vezes, aliás, somos pegos desprevenidos e vestimos a máscara que nosso primeiro instinto manda; por isso que às vezes nos assistimos fazer papel de bobo, completamente impotentes e incapazes de fazer qualquer coisa a respeito dessa situação constrangedora e aflitiva. Claro que somos nós falando, mas através da máscara que colocamos e as palavras conforme ao personagem interpretado pela máscara não são exatamente as que gostaríamos realmente de dizer. Por isso nem sempre acreditamos no que fizemos ou estamos fazendo, mas é como se o mecanismo já estivesse ligado e só pudéssemos sair daquela máscara uma vez que a bateria tiver acabado. E lá vamos nós passando a imagem que não queríamos passar.

Mas não usamos máscaras porque somos hipócritas, nem apenas por que somos covardes e queremos preservar nosso “eu” puro e sincero para pouquíssimas pessoas, mas por que vivemos num mundo de aparências. Onde tudo é sobre o parecer e nada é sobre o ser.
Somos escravos das aparências. Não que isso seja inteiramente ruim, é claro, é o que permite que toda a sociedade funcione devidamente. Existe um acordo secreto que exige o respeito das aparências de todos por todos. As próprias regras de etiqueta são convenções que garantem o cumprimento das aparências: você pode não gostar da fulana-de-tal, mas vai agradecê-la pelo presente do mesmo jeito (afinal de contas ela também respeitou o código comparecendo à festa).

Regras de etiquetas não são flexíveis, você não as usa com quem quiser ou quando bem entender; elas não são relativas, são imperativas: você deve por que deve, e não há discussão possível por que se você por acaso não agradecer quando tiver que agradecer você está errado, não importa o que a pessoa fez para merecer isso, você errou. Mas isso é apenas um parêntese sobre um assunto também muito importante, mas que não é o tema da coluna de hoje.

Voltando às aparências. Somos sim escravos das aparências e nossa vida toda se desenrola tendo como plano de fundo as aparências. Passamos uma imagem de acordo com a circunstância e nosso humor, mas isso por que ninguém se mostra nu: mostramos-nos mascarados. E é por isso que tudo funciona, por que chegamos a conclusão de que todos nós mostramos a mesma coisa: a máscara. O que é curioso é que exibimos uma máscara até mesmo para pessoas com quem não estamos conversando e nem pretendemos conversar: num restaurante, por exemplo, estamos passando uma imagem não apenas para as pessoas na nossa mesa, mas também para os garçons e os outros clientes do restaurante. E temos plena consciência disso, sabemos que podemos estar sendo observados, ouvidos, julgados.

Ai está: o julgamento. Eis o motivo da máscara. Se julgarem você, ao menos é uma de suas numerosas máscaras (que, claro, é parte de você, mas não você inteiro). Shakespeare costumava analisar essa questão do parecer em suas peças de teatro. Quando Mercúcio de Romeo e Julieta diz:

“Alcancem-me algo com que esconder meu rosto! Uma máscara para outra máscara! Que importa que os olhares alheios e curiosos observem minhas deformidades? Aqui está a carranca que irá envergonhar-se por mim!”

Releiam o que nos diz mestre Shakespeare: vale mais do que ouro.

Escondemos nossas deformidades e deixamos apenas as pessoas que amamos profundamente verem-nas profundamente. Nós mesmos chegamos a nos assustar com nosso ser. Como estamos mais acostumados a exercer o parecer do que o ser, temos mais facilidade em conviver com nosso parecer. Já o ser, vem acompanhado de muitas surpresas, medos, inseguranças, e descobertas magníficas... Que alegria podermos nos esconder e defender dos olhares que tanto gostam de julgar!... Vivemos num constante, belo e eterno baile de máscaras. Mas e que alegria sentimos ao despir nossa máscara, e finalmente deixar respirar nosso próprio e incompreendido “eu” e mostrá-lo apenas para quem julgamos merecedor e corajoso o suficiente!...

4 comentários:

Unknown disse...

adorei essa coluna, é exatamente o que eu penso, mostrado de uma maneira muito mais bonita e sofisticada =D, simples, mas sofisticada! embora eu ache q seria mais interessante se essa coluna adquirisse o formato e a linguagem de uma cronica (vc sabe que eu adoro cronicas XD). Poderia ser interessante, abordar o tema de um jeito mais comico. de resto, eu achei que ela está ótima! por que nao escrever também colunas em francês? =) vai ser bom vc treinar um pouco. bjao linda!

Anônimo disse...

Err... Máscaras?
Não sei quem conhece o meu verdadeiro eu, acho que nem eu conheço. Nós vivemos nas aparências? Talvez. Mas é o que sempre disseram, pensar dói, por que te deixa consciente da sua insignificancia, e dos seus erros.

O que eu acho é que nosso ser é mais flexível do que pensamos, não é que temos vários seres. Nós não vestimos máscaras, nós nos adaptamos à situação e mudamos.

E não acho que isso é um mecanismo de defesa, mas um mecanismo de aprendizado, de moldagem, de evolução. Eu não saio com cara de vou-comprar-o-jornal por que eu não quero que as pessoas me acharem tosco por que tou saindo para comprar o jornal. Mas por que eu quero informar aos outros que vou comprar o jornal. Acho que é mais algo de transmitir informações do que esconder o que você é. Mas bom, quem sou eu para entender o mundo?

Anônimo disse...

Se adaptar a novo ambientes eh vestir uma mascara. E mascara nao eh necessariamente um objeto para se esconder. Qnd vc vai em um lugar vc utiliza seus conhecimentos sobre esse tal ambientee e deixa de lado o seu outro lado. Por exemplo vc vai a um jantar e conversa com muitas pessoas (voce esta sorridente, calma, bem arrumada ..). Vc nao vai mostrar seu lado mais severo, mais stressado como qnd vc esta no escritorio escrevendo um relatorio pro seu chefe. Nesse caso vc usa uma mascara. Pode ser tanto como um mecanismo de aprendiz ( vc aprende a se controlar na frente das pessoas) e um mecanismo de defesa.

Sordaria disse...

De fato usamos máscaras no nosso dia à dia, mas então, será que nao usamos uma máscara para nós mesmos? Talvez não seja tão simples separar o nosso "eu" verdadeiro como vc diz, de nossas inúmeras máscaras. Acho que as deversas facetas que nos constituem, constituem um único ser. Se escolhemos tal comportamento é pq quisemos escolhê-lo, logo ele nos representa. Somos o que fazemos, o que pensamos, o que queremos ser, pq as pessoas externas apenas terão uma imagem de nós, e ela será inevitávelmente diferente para cada um.
É verdade que por proteção não nos abrimos inteiramente,do mesmo modo que não manteremos o mesmo tipo de discurso para pessoas em sincronias diferentes. Não sei se estou sendo clara, isso as vezes não é fácil para mim, mas não seria tão radical a ponto de achar que as máscaras nos escondem.