Este blog é um conjunto de colunas que escrevo.

(Péssima introdução, mas leiam mesmo assim!!)

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sexta-feira, 26 de março de 2010

Columns 5- A pequena sereia

Mulheres deveriam se revoltar. Não somente por que foram injustamente tratadas durante, não apenas anos e mais anos, nem mesmo séculos e mais séculos, mas milênios e mais milênios (ou pelo menos cinco deles), mas também por serem enganadas.

Sim, corajosas mulheres de 1914 tiveram a audácia de fumar cigarro, ato de exclusividade masculina na época, o que significa que a mulher que fumava um único cigarro provocava aberta e imediatamente os homens e suas regras usurpando seus privilégios (lembre-se da Rose em Titanic). Estas mulheres fumantes reivindicavam direitos como o voto e independência financeira. Nos anos oitenta, mulheres passaram a usar ombreiras e a desprezar qualquer ser do gênero masculino que se oferecesse para pagar a conta do jantar. Conquistaram um espaço no competitivo mundo do trabalho e saíram por aí, revoltadas e ávidas para vingar-se dos insultos misóginos que suas companheiro de gênero sexual tiveram que ouvir durante milênios e mais milênios (ou pelos menos cinco deles).

O que raramente pensamos é que quem era responsável pela educação dos homens e das mulheres eram, salvo poucas exceções, mulheres. O que significa que o comportamento recluso das mulheres era ensinado por mulheres, da mesma forma que os misóginos estúpidos também eram criados por mulheres. O que basicamente significa que, de certa forma, a propagação da sociedade machista se fazia graças às próprias mulheres!... Insano, não? Que mulheres bobas, podemos pensar, mas às vezes me pergunto se a situação é tão diferente assim hoje em dia... Não em relação ao tratamento injusto, mas em relação à enganação.

De fato, como ia dizendo o sexo feminino deveria unir-se e revoltar-se não apenas devido ao tratamento injusto e vergonhoso que elas agüentaram durante milênios e mais milênios (ou pelo menos cinco deles), mas também por que são enganadas. Enganadas por quem? Por elas mesmas!

Desde pequenas meninas são criadas para sonhar com um príncipe encantado. Um príncipe forte, bonito, corajoso, e honrado, que esteja disposto a enfrentar um dragão e libertar a doce princesa encarcerada na torre mais alta do castelo amaldiçoado. Conforme vai crescendo, a doce princesa se transforma numa princesa com TPM (o que a faz se parecer cada vez mais com o dragão e cada vez menos com a princesa), e o príncipe forte, bonito, corajoso e honrado vira um príncipe com espinhas, depois um príncipe safado e galinha, depois um príncipe casado (com outra princesa de TPM) ou salafrário (quem sabe com várias outras princesas de reinos muito muito distantes). Ou seja, no fim da história os dois personagens principais sofreram graves mutações e não há mais princesa, e muito menos príncipe.

Com a idade, a inabalável fé em contos de fadas (leia-se: inabalável fé no príncipe encantado) se evapora, e a princesa de quatro anos cede seu lugar a uma cética e desconfiada mulher de 20 e poucos anos... O problema é que estes malditos contos de fadas foram tantas e tantas vezes repetidos para tantas a tantas gerações de mulheres que praticamente já fazem parte do DNA da cética e desconfiada mulher de 20 e poucos anos. O que faz com que, por mais cética e desconfiada que seja, a mulher ainda possui uma tênue e escondida fé no príncipe encantado. Mas não tem jeito: príncipes encantados vivem no lindo e maravilhoso, porém inexistente mundo dos contos de fadas, e as princesas de TPM vivem no frio difícil e cruel mundo da realidade. Do mesmo jeito que Emma Bovary foi levada a acreditar na existência inexistente de um homem elegante, sensível, corajoso, honrado, e inteligente, as mulheres do dias de hoje também são treinadas para acreditar na existência de algo que não existe e não pode existir (enganadas!). E treinadas por quem? Pelas outras mulheres. No livro Madame Bovary, a personagem romântica morre por que não pode sobreviver num mundo realista, na vida real e atual, as mulheres sobrevivem às decepções, frutos de convicções tiradas dos contos de fadas, com a ajuda de outras mulheres que reforçam essas mesmas convicções (“não se preocupe, ele vai aparecer, ele vai”, e se o príncipe espinhento de fato não aparecer “não era para ser, este daí não era seu príncipe, era sapo mesmo”)... Enganação atrás de enganação.

Se Emma Bovary foi enganada pelos românticos que a levaram a crer que homens perfeitos e apaixonados de fato existem, as menininhas de hoje em dia e futuras mulheres de hoje em dia são enganadas por uma coisa chamada Walt Disney. Sim, por que eu sei que quando você era pequenininha te fizeram assistir um filme chamado A Pequena sereia. Então eu sei que você acha que no final o príncipe se casou com a pequena sereia e eles viveram felizes pro resto de suas vidas... Mas isso, minha gracinha, é tudo mentira. Se Disney resolveu alterar um pouco o conto de Andersen acredito que seja por que deve ter chegado à inteligentíssima conclusão de que nenhuma mulher ou princesinha gostaria de saber que a pequena sereia salvou o príncipe, que ela se transformou em humana através um muitíssimo doloroso procedimento para ficar com seu príncipe, que o príncipe prometeu casar-se com ela e que no final o f... do príncipe decidiu casar-se com outra fazendo com que a sereiazinha virasse espuma do mar.

O que significa que no final das contas a pequena sereia se ferrou, assim como outras heroínas dos contos de Grimm, Perrault e Andersen, que foram todos adaptados pela infeliz Walt Disney que por sua vez encoraja meninas indefesas a acreditarem numa mentira. Claro que são as mamães que contam essas histórias de príncipes e princesas para suas filhinhas, inclusive mães divorciadas, mães sem príncipes... E você pode ter certeza que a cética e desconfiada mulher de 20 anos também vai contar historinhas para sua filha desenvolvendo o lado “acredito em contos de fadas (leia-se: acredito em príncipes encantados)” de seu DNA.

Mas diga a verdade, por mais que você se revolte com suas decepções e jure nunca mais acreditar no príncipe e prometa jamais inculcar idéias malucas e mentirosas na cabeça da sua futura filha, não é um alívio poder acreditar nele, nem que seja por um segundo sequer? Talvez o príncipe não precise ser forte, bonito, corajoso, e honrado, talvez o príncipe seja simples e adoravelmente aquele que enxuga suas lágrimas no final de uma sessão de filme ruim... Talvez, mas não se mate se seu príncipe morre de rir a ver suas lágrimas ao invés de secar-las.

4 comentários:

Unknown disse...

aiai...a idealização amorosa...há quantos e quantos anos não vemos isso? amarmos quem queremos que a pessoa seja, e não a pessoa mesmo...esperar pelo príncipe, e não viver a realidade...conheço várias assim, não é? eu pelo menos era assim hahahaha...já Padre Vieira, no seu "sermão do mandato", dizia "Donde também se segue que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e não é, não há no Mundo." Obviamente, na sua coluna, se trata das mulheres...constantemente iludidas pelos romances(antigamente) e pelos filmes da Disney E as malditas comédias romanticas(quando mais velhas). Não sei, acreditar no príncipe, leva a acreditar na perfeição de um relacionamento, "dos seus sonhos, como nos contos de fadas". Temos necessidade disso? A realidade é realmente dificil de se encarar, precisamos de esperanças, válvulas de escape...embora a idealização amorosa leve a desapontamentos na vida real, embora fosse uma tentativa de fugir a ela! Quando vc aplica esse tipo de sonho a realidade, não dá nem um pouco certo...o que fazer? Ter essa epifania que eu, pelo menos, tive, numa aula de cursinho, e um longo processo que durou toda minha adolescencia...amadurecer, olhar as coisas de frente, gostar das pessoas como elas são(é um clichezinho básico, mas uma vez que acontece com vc..faz todo sentido)...tudo isso pra dizer q sua coluna é ótima! ótima para se refletir, e passar da "ignorancia dupla" para a "simples ignorancia"...amei =D e fica a dica que nem todas as pesonagens de Perrault se deram mal...a de Barba Azul ou Bela Adormecida(embora eu não tenha ideia se a Bela adormecida é realmente do Perrault)...um ótimo conto, é o da Bela e a Fera...afinal, a Bela amou a Fera como ele era...e foi recompensada com um lindo príncipe...não que isso seja aplicavel sempre...mas é um pouco mais realista e ideal para nós, pobres mortais!

Priscilla disse...

Que triste =S eu nao conhecia a verdeira historia da pequena seria!!! estou chocada!! Que feio ate o Walt Disney gosta de enganar as criancinhas e fazer com que as meninihas esperem o principe encantado, e iludi-las!..Olhaaaaa ameiiiiiiiii esse textoo! vc conseguiu pegar um exemplo tao simples de um conto de fadas e construir uma coluna EXTRAORDINARIA! e diferente ..Parabens !
Mes felicitations =)

Anônimo disse...

De que adianta? Os sonhos vão sempre existir, por que não sonhar com um príncipe encantado? Vai saber se ele não existe. Mas a questão é que tem um lado em toda a mulher que não acredita no príncipe, e é isso que falha. Os homens vêem os filmes da Walt Disney tanto quanto as mulheres, ao menos eu assistia, e isso não me fez sonhar mais ou menos. Me fez pensar: talvez fosse legal se fosse assim. Mas eu não quero que minha vida seja de um príncipe encantado, não quero ver minha vida pré-escrita, quero poder construir minha vida. Mas eu realmente acho que um príncipe encantado possa existir. Por que afinal, são as mulheres que educam os homens, eles não viram monstros espinhentos sozinhos.(Não falo um príncipe em relação ao corpo, por que aí não tem muito o que fazer mesmo. Mas na atitude). O problema nas mulheres é que elas querem um homem que seja um príncipe, mas que ao mesmo tempo seja divertido, carinhoso, elegante, e pentelho de alguma maneira que não achem ele chato.O que convenhamos, vocês não conseguiriam. O fato é que o príncipe encantado é muito previsível para as mulheres gostassem deles . E ainda digo mais, se os homens fossem como as mulheres querem, aonde está a magia da criação? Aonde está a evolução? Aonde está a surpresa? O homem ideal é aquele que consegue ser agradável, interessante, e que tem uma personalidade. Isso é o homem ideal para mim. Um homem que quer o melhor, que quer trazer algo ao mundo. Mas as mulheres, felizes, isso ainda vamos demorar 500 anos para conseguir.

Sordaria disse...

Ao contrário do que você pensa, muitos pais se recusam a contar aos seus filhos contos de fadas, justamente por acreditarem que eles não descrevem quadros da vida real. Não nego que fomos criados bombardeados por filmes e livros que retratam estória com princesas e principes. No entanto, vc não pode confundir a realidade de um adulto com a de uma criança. Para o bem dela, seu desenvolvimento, contos são de extrema importância. Não foram escritos ou feitos para acreditarem neles, e sim para estimular a "verdade" da nossa imaginação. Além do que, muitos contos de fadas são de épocas diferentes da nossa, basta ver o começo de Ali baba :" Em dias de outrora, em tempos e épocas longínquas..." Os contos são portanto educativos e não ilusões.Se o bem vence e o princípe é bom, é para mostrar que ser bom é melhor que ser mau. De fato, a Disney modificou completamente contos de fadas para obter um final menos "repugnante", mas seria ela tão ruim assim? Quem não sonha assistindo à um Disney? Não podemos ter medo de sonhar, apenas de esquecer a realidade.

Quanto à culpa da mãe. Discordo em parte. Claro que por muito tempo foram as mães as responsáveis pela educação de seus filhos. Mas pense, em quem o filho se baseia? No pai. Sim, os homens alimentaram isso por milenios, a igreja incluso. Se as mulheres tem culpa, é sobretudo por sua submissão e indiferença. Mas como adquirir independência se isso provavelemente significaria à morte? Ta, posso estar exagerando, mas não penso que fosse tão simples assim "desmachisar" seus filhos. A Emma Bovary sonhava com seu principe, certo, mas alguma vez ela realmente tentou encontrá-lo? Afinal, essa mulher iludida so se interessava por convenhamos cafagestes! E será que nós também não procuramos homens menos obvios e simples? Quem nunca rejeitou cavalheiros?
Li isso outro dia :"A fonte dos problemas das pessoas são suas fantasias. Se você não tivesse fantasias, você não teria problemas, porque você aceitaria qualquer coisa que estivesse a sua frente. Mas aí você não teria romance, porque romance é encontrar sua fantasia em pessoas que não são sua fantasia." (Andy Warhol)